domingo, 9 de agosto de 2015

Programa: Sociologia do Desenvolvimento Rural - 2º/2015

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
ICS – Departamento de Sociologia
Sociologia do Desenvolvimento Rural
Prof.  Danilo Nolasco C. Marinho
2º/2015

OBJETIVO
            O curso tem como objetivo abordar aspectos relevantes da problemática do desenvolvimento rural e agrícola. Visa também introduzir o aluno de ciências agrárias e florestais à abordagem sociológica das questões rurais, enaltecendo as repercussões sociais do processo do desenvolvimento rural/agrícola. Na parte inicial do programa será apresentada breve introdução ao campo científico da sociologia.

PROCEDIMENTOS E AVALIAÇÃO
            O curso será desenvolvido por meio de aulas expositivas, estudos dirigidos, discussões em sala de aula e apresentação de vídeos e matérias disponíveis na Internet. A avaliação do aluno decorrerá de prova escrita baseada nos conteúdos apresentados, resumos ou resenhas de textos indicados, questionários e seminários. O professor poderá, a seu critério, atribuir nota pela participação do aluno em atividades de sala de aula.

UNIDADES DO PROGRAMA
1.      O que é sociologia?
Texto: Brym et al. (2006)
2.      Teorias do desenvolvimento
Textos: Marinho e Lourenço (2009); Sachs (2012).
3.      O campo científico da sociologia rural
O rural e o urbano;
O novo rural brasileiro;
A sociologia rural e agrícola;
Textos: Solari (1979); Silva e Del Grossi (2002); Textos no Blog da disciplina.
4.      Desenvolvimento rural; agricultura familiar; trabalho rural
A questão agrária brasileira; reforma agrária.
Textos: Navarro e Pedroso (2011); Buainain et al. (2014); Marinho (2004).
5.      Ciência, tecnologia, agricultura e desenvolvimento
Textos: Sousa (2010); Garcia (2014); Neder (2014) blog do professor.
6.      Agronegócio, cadeias agroalimentares
Alimentação, cultura, economia e sociedade;
Mercados, globalização, desenvolvimento sustentável;
Trabalho e agricultura;
Textos: Barros (2014), blog do professor.
7.      Temáticas contemporâneas
Agricultura e meio ambiente; ecoprotecionismo; agricultura familiar; movimentos sociais rurais; sistemas agroalimentares; trabalho na agricultura e no meio rural; pluriatividade; migração rural urbana; sistemas agroalimentares; Globalização e comércio internacional; agronegócio e sistemas agroindustriais; Biotecnologia e OGMs; arte e literatura no meio rural.
OBS: textos variados (impressos, Internet), vídeos (DVD, You Tube), blog do professor.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BARROS, Geraldo S.C. Agricultura e indústria no desenvolvimento brasileiro. In: Mundo rural no Brasil do século XXI: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. Brasília, Embrapa, 2014.
BRYM, Robert et al. Sociologia, sua bússola para um novo mundo. São Paulo, Thomson Learning, 2006.
BUAINAIN, Antônio M. e outros. Sete teses sobre o mundo rural brasileiro. In: Mundo rural no Brasil do século XXI: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. Brasília, Embrapa, 2014.
MARINHO,   Danilo N.C. Dilemas da reforma agrária no Brasil. Anais do IV Congresso CEISAL, Bratislava, julho/2004.
MARINHO, Danilo N.C. LOURENÇO, Luiz Carlos. Aspectos do desenvolvimento vinculados à sociedade e ao Estado, in: FERNANDES, Ana Maria e RANINCHESKI, Sonia, Américas compartilhadas. São Paulo, Editora Francis, 2009.
NAVARRO, Z.  PEDROSO, M.T. Agricultura familiar: é preciso mudar para avançar. Texto para Discussão 42. Brasília, EMBRAPA, 2011.
SACHS, J. “Notas para uma sociologia do desenvolvimento econômico”. In: HARRISON, L.E. e HUNTINGTON, S.P. A cultura importa. São Paulo, Record, 2002.
SILVA, J. Graziano. DEL GROSSI, M. “O que há de realmente novo no rural brasileiro”. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Vol.19, nº 1, jan/abr., 2002.
SOLARI, Aldo B. “O objeto da sociologia rural”. Em: Tamás Szmrecsányi e Oriowaldo Queda (orgs.) Vida rural e mudança social. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1979.
SOUSA, Ivan S.F. Rumo a uma sociologia da agroenergia. Brasília, EMBRAPA Informação e Documentação, 2010.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BORLAUGH, Norman, DOWSWELL, Christopher. “Perspectivas da agricultura mundial”. Informe Especial: Agricultura. Sem data.
GOODMAN, D. SORJ, B. e WILKINSON, J. Da lavoura às biotecnologias. Rio de Janeiro, Editora Campus, 1990.
GOODMAN, D.; REDCLIFT, M. Refashioning nature: food, ecology and culture. London, Routledge, 1991.
GRAZIANO NETO, F. “A (difícil) interpretação da realidade agrária”. Em: SCHMIDT, B.V., MARINHO, Danilo. N. e ROSA, S.C. Os assentamentos de reforma agrária no Brasil. Brasília, Editora UnB, 1998.
GUIVANT, Júlia S. “A agricultura sustentável na perspectiva das ciências sociais”. Em: (vários autores) Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania. São Paulo, Cortez Editora, 1995.
HAYAMI, Y e RUTTAN, V.W. Desenvolvimento agrícola: teoria e experiência internacionais. Brasília, EMBRAPA, 1988.
KLEBA, John B. “Riscos e benefícios de plantas transgênicas resistentes à herbicidas”. Cadernos de Ciência e Tecnologia, vol. 15, nº 3, set/dez, 1998.
MARTINS, José de Souza. “A vida privada nas áreas de expansão da sociedade brasileira”. Em: NOVAIS, F.A . e SCHWARCZ, L.M. (orgs.), História da vida privada no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
MARTINS, José de Souza. Reforma Agrária: o impossível diálogo. São Paulo, EDUSP, 2000.
MENDRAS, Henry. “A cidade e o campo” , em: QUEIROZ, M.I.P (Org.), Sociologia Rural. Rio de Janeiro, Zahar, 1969.
MÜLLER, G. Complexo agroindustrial e modernização agrária. São Paulo, Hucitec/EDUSP, 1989.
QUEIROZ, M.I.P. “Do rural e do urbano no Brasil”. Em: Szmrecsányi e Queda (orgs.), Vida rural e mudança social. São Paulo, Nacional, 1979.
QUIRINO, T.R., MARINHO, Danilo.N.C. LUIZ,ªJ. Mercado verde: Quem se importa? Jaguariúna, EMBRAPA Meio Ambiente, 1998.
ROCHA, S. Pobreza no Brasil: afinal quem se importa? Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2003.
SABOURIN, E. Camponeses do Brasil, entre a troca mercantil e a reciprocidade. Rio de Janeiro, Ed. Garamond, 2009.
SCHMIDT, B.V., MARINHO, Danilo.N. e ROSA, S.C. Os assentamentos de reforma agrária no Brasil. Brasília, Editora UnB, 1998.
SCHMIDT, B.V., MARINHO, D.N. e ROSA, S.C.  “Terra dos assentados: considerações sobre a política de reforma agrária”, em: SOBRAL, F. F e PORTO, M.S.G (Org.), A contemporaneidade brasileira. Santa Cruz do Sul (SC), EDUNISC, 2001.
SCHNEIDER, S. “Da crise da Sociologia Rural à emergência da Sociologia da Agricultura: reflexões a partir da experiência norte-americana”. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Vol. 14, nº 2, 1997.
SILVA, J. Graziano. O novo rural brasileiro. Campinas, UNICAMP-IE, 1999.
VEIGA, José E. “Perspectivas nacionais do desenvolvimento rural”. Em: S. Shiki, J. Graziano da Silva e  C. Ortega (Orgs.), Agricultura, meio ambiente e sustentabilidade do cerrado brasileiro. Uberlândia, EMBRAPA/UNICAMP/UFU, 1997.
VEIGA, José E. Cidades Imaginárias. Campinas, SP, Autores Associados, 2002.

WILKINSON, J. Mercados, redes e valores. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2008.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Dilemas e perspectivas da reforma agrária no Brasil


SIMPOSIO REG-12: “Las distintas modalidades de desarrollo de los pequeños y medianos productores agrícolas en América Latina”.



PONENCIA: “Dilemmas and perspectives for the Agrarian Reform in Brazil”. Danilo Nolasco C. Marinho, Professor, Sociology Department and Research Center on Americas, Universidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil. nolasco@unb.br .

Abstract. The paper analyzes Agrarian Reform policy in Brazil over the last ten years and outlines the perspectives for the next years. Agrarian Reform Policy in Brazil has been only carried out in periods and regions with social conflicts or in response to huge protest movements with reverberation in society. More than four hundred thousand families have been settled over the last years. Social movements of rural workers galvanized public opinion in the last decade and changed demands for material goods into an ideological and political platform. The current Brazilian Government, delivering a left-wing speech, begins to have an increasing difficulty to face up to protest movements. The paper concludes that the current Government is compelled to maintain the same grounds of the Agrarian Policy from the former Government. The limits of the Agrarian Reform policy stem from budget problems, legal problems in the disclaim of land and the government techno-burocratic capability to implement the programs.

Resumo. O trabalho faz uma análise da política de reforma agrária no Brasil nos últimos dez anos e delineia perspectivas para os próximos anos. A política de reforma agrária no Brasil só tem sido implementada de forma significativa em períodos ou regiões de conflitos sociais ou frente a grandes movimentos reivindicatórios com repercussão na sociedade. Mais de quatrocentas mil famílias foram assentadas nos últimos anos. Movimentos sociais de trabalhadores rurais galvanizaram a opinião pública na última década e transformaram demandas por bens materiais em plataforma política ideológica. O atual governo brasileiro, com discurso político de esquerda, começa a ter crescente dificuldades para enfrentar os movimentos reivindicatórios. O trabalho conclui, que o governo atual, será compelido a manter os fundamentos da política de reforma agrária do governo anterior e que, os limites da política de reforma agrária, decorrem de problemas orçamentários, de problemas jurídicos na desapropriação de terras e da capacidade do aparato técnico-burocrático governamental de implementar os programas.




A REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL: DILEMAS E PERSPECTIVAS



            A questão agrária, problema histórico da sociedade brasileira,  inicia o século XXI com impasses a serem enfrentados. Muitas foram as legislações e investidas políticas para um modelo de reforma agrária  que atendesse aos interesses da população rural brasileira. As análises da realidade rural brasileira foram sempre contaminadas por interesses econômicos classistas ou por perspectivas ideológicas sectárias que produziram  ou interpretações simplistas, que propugnavam soluções tipo “passe de mágica”, ou revolucionárias, que aspiravam a mudança da ordem política vigente. Outra característica das análises da questão agrária é a separação da questão agrária da questão agrícola. Política agrária é demanda da esquerda, política agrícola é demanda da direita. Esta visão esquizofrênica perdura, como se as ações de política agrícola não interessassem aos beneficiários da reforma agrária.
            O meio rural/agrícola brasileiro possui importância notável. O Brasil possui uma das maiores áreas agricultáveis do mundo; é o país que possui o maior potencial de expansão da fronteira agrícola; está entre os maiores produtores mundiais dos principais produtos agropecuários; a exportação de produtos agrícolas e seus derivados representa parcela importante da balança comercial; a população rural concentra quase 50 milhões de pessoas, sendo que cerca de 30 milhões de pessoas compõem a população economicamente ativa no campo. Ao lado de tecnologias e práticas tradicionais e ultrapassadas, o País apresenta um perfil tecnológico de última geração em termos de exploração agropecuária, sendo pioneiro em avanços tecnológicos para regiões tropicais. Além disso, está ocorrendo um processo de reestruturação produtiva intenso e regido pelo mercado globalizado, que redefine suas características econômicas e sociais.
            Por outro lado, o Brasil é um dos maiores países do mundo em concentração da propriedade da terra o que tem provocado, nos últimos anos, crescimento dos movimentos sociais das populações rurais sem terra e de produtores familiares empobrecidos. Exacerbados pela reestruturação produtiva em andamento, tais grupos rurais acabam engrossando as fileiras do desemprego e subemprego urbano e rural, além de comporem, em grande proporção, um quadro social que apresenta baixo nível de escolaridade, problemas endêmicos de saúde e insuficiente acesso aos bens e serviços, ou seja, índices generalizados de pobreza e miséria.
As políticas governamentais para enfrentar a questão agrária só têm sido efetivadas, em geral, em períodos ou regiões de tensão ou conflitos ou frente a grandes movimentos reivindicatórios com repercussão na sociedade. As políticas de reforma agrária são justificadas ora em uma perspectiva de política social para diminuir tensão e conflitos sociais, diminuir as injustiças quanto ao acesso à terra, evitar o êxodo rural intenso e garantir a sobrevivência física dos assentados pela produção agrícola de subsistência; ora em uma perspectiva de política econômica no sentido de aumentar a produção de gêneros alimentícios. A reforma agrária como política social é que obteve relativo sucesso, principalmente nos últimos anos, tendo em vista o grande número de famílias assentadas e a quantidade de área incorporada. Entretanto, o sucesso de um programa de reforma agrária não pode ser medido somente a partir  das realizações em termos de áreas desapropriadas e do número de famílias assentadas.
O que é visto pela sociedade na cena agrária brasileira são as ações dos movimentos sociais e dentre estes, particularmente, as do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O MST tem sido um protagonista fundamental na história recente da reforma agrária no Brasil e, atualmente, se configura, principalmente, como um movimento de assentados em assentamentos de reforma agrária.
Uma conseqüência da implementação da política de reforma agrária é que, quanto mais se assenta, mais se fortalece os movimentos reivindicatórios dos assentados, que aumentam em quantidade e organizam suas demandas. Embora o discurso para o público externo enfatize a necessidade de criação de novos assentamentos e a incorporação de novos assentados, o principal fator de mobilização nos assentamentos são reivindicações de créditos, de infraestrutura e de benefícios variados. Nesse ponto se localiza uma característica do MST, a transformação de demandas materiais de bem estar em um discurso político-ideológico.
Um grande mérito do MST foi mobilizar um setor da sociedade que é de difícil mobilização, uma parcela da sociedade que está nos limites da privação e da exclusão. Nos assentamentos que tem presença, faz o que o Estado não tem condições de fazer, que é promover a ressocialização dos beneficiados pela reforma agrária. A ressocialização, a reeducação plena da pessoa para sua nova circunstância social e histórica, exige um envolvimento muito intenso dos que estão sendo ressocializados, e muito intenso dos agentes de ressocialização, coisa difícil para os funcionários do Estado, os funcionários públicos. É lamentável que haja tantas dificuldades para que MST e o Estado se completem nesse papel de transformação social. O pressuposto político ideológico de MST, desloca sua referência social e política para o âmbito da contestação do Estado vigente .
José de Souza Martins (MARTINS, 2000), insuspeito estudioso da história agrária brasileira, considera que a experiência de “reentrar” na sociedade através de um assentamento, que é um instrumento da ordem do Estado, ainda que com progresso, e, por meio dele, de um compromisso com essa ordem, muda substancialmente a situação social desses atores e reorienta suas condutas e suas expectativas. O período de luta social, dos movimentos coletivos capturados por grupos de orientação ideológica, é uma espécie de intervalo temporário na vida dos trabalhadores envolvidos. Uma espécie de colocação entre parênteses dos valores e aspirações que lhes são mais caros. Desta forma, as mobilizações de assentados, com exceção da direção política do movimento, se dão em função de demandas materiais objetivas. Essa situação contradiz com a retórica revolucionária do MST, que concentra sua pedagogia política na idéia maniqueísta de que a luta pela terra é uma luta entre o bem o mal, em que o Estado, e suas instituições, também é inimigo.
Existem mitos e falácias a respeito da reforma agrária no Brasil. Provavelmente o mais freqüente é que o País tem muita terra disponível e, portanto, basta distribuí-las para atender a toda a demanda. Quando se observa o mapa do Brasil, verifica-se um imenso vazio de ocupação humana no Centro-Oeste e no Norte. O problema é que são terras sem acesso ou inadequadas para agropecuária. Terras que possuem acesso a estradas, eventualmente energia elétrica e proximidade a mercados consumidores, têm dono. Ou seja, mesmo que improdutivas, necessitam ser desapropriadas para efeito de reforma agrária. O que significa, ser compradas pelo poder público. O Governo Militar tentou colonizar áreas amazônicas com agricultores familiares, a maioria abandonou seus assentamentos. Foi uma maldade coloca-los naquela situação, nas terras amazônicas é necessário “pular de paraquedas” para acessá-las. Outra falácia, basta vontade política para fazer reforma agrária. Sim, é necessário vontade política e muitas outras coisas. Os limites de uma reforma agrária em grande escala decorrem de problemas orçamentários, de problemas jurídicos e da capacidade do aparato técnico-burocrático governamental em implementar e assistir a reforma agrária.
O atual governo brasileiro, do presidente Luís Inácio Lula da Silva, de um partido político de tradição de esquerda, sempre teve um discurso a favor de uma ampla reforma agrária. Uma vez no poder, as dificuldades práticas para implementar a reforma agrária pretendida se evidenciaram. As dificuldades decorrem de recursos orçamentários escassos, arduamente disputados por outras demandas, limitada capacidade do aparato governamental para conceber e implementar os programas e os problemas jurídicos relacionados com as desapropriações de terras, antagônicos com um sistema capitalista que enaltece os direitos de posse. As limitações orçamentárias talvez tenham sido o fator limitante principal. O resultado foi uma performance do governo, em termos de número de famílias efetivamente assentadas em 2003, abaixo da média do governo anterior, considerado neo-liberal (tabela 1). As projeções para o segundo ano de governo Lula da Silva, quanto à reforma agrária, também não são animadoras. Os fatores limitantes continuam em efeito, apesar da retórica reivindicativa dos movimentos sociais a favor da reforma agrária.
Em termos objetivos para a ação governamental, uma questão central para a política de reforma agrária é a necessidade de identificar espaços, a partir do quadro atual do setor agropecuário, nos quais a produção dos assentamentos possa se inserir de modo sustentável. A sustentabilidade, neste caso, significa não só a sobrevivência, mas também a possibilidade de produzir excedentes para investimentos ou, em outras palavras, a instalação de processo de capitalização. A idéia de que a partir de um programa de reforma agrária seja possível multiplicar a geração de empregos no campo tem como pressuposto fundamental o sucesso econômico de seus beneficiários. A viabilidade econômica do assentamento decorre das condições técno-agronômicas de produção e também da adequada inserção no mercado. A maioria dos assentamentos de reforma agrária do País está em condições precárias. Isto serve de argumento para setores reacionários combaterem os aportes financeiros para implementação da reforma agrária.
Existem assentamentos de sucesso no País. O sucesso é explicado pela mobilização dos assentados, pela organização de cooperativas, pela incorporação de tecnologias, pela disponibilidade de capital para custeio e investimento, enfim, pelas possibilidades de inserção na cadeia de produção agropecuária (MARINHO, 1998). Se o Estado não possibilitar as condições para os assentados em projetos de reforma agrária incorporarem um padrão agrário moderno conseguirá apenas retirar parcelas da população da indigência, mas que serão mantidas à margem da economia brasileira. Assim, o dilema brasileiro é como inserir, não só os beneficiários da reforma agrária, mas grande parcela do heterogêneo setor rural brasileiro, nos sistemas agropecuários contemporâneos.
A política de reforma agrária brasileira necessita conviver e incorporar, no diálogo que caracteriza a democracia representativa, os movimentos sociais mais radicais, mesmo os sectários em termos políticos e ideológicos, que se desenvolveram a partir das condições de atraso, de injustiça e de desprezo que governos e elites políticas tiveram em relação a grande parcela da população rural. Deve prevalecer a idéia de que o populismo, o messianismo ou o ativismo revolucionário não resolverão o problema agrário brasileiro, pelo contrário, poderão agravá-lo, prejudicando a economia e comprometendo o desenvolvimento do País, além de trazer o risco de tragédias indesejáveis.


BIBLIOGRAFIA.

MARTINS, José de Souza. Reforma Agrária: o impossível diálogo. São Paulo, EDUSP, 2000. ISBN 85-314-0591-2
MARINHO, Danilo N.C; SCHMIDT, Benício.V.; ROSA, Sueli.L.C. Os Assentamentos de Reforma Agrária no Brasil. Brasília, Editora UnB, 1998. ISBN 85-230-0517-X

domingo, 4 de março de 2012

Questões sobre o documentário "A Terra".


Questões sobre o documentário “A Terra”

1.      O documentário pode ser considerado como uma perspectiva geral da questão agrária brasileira? Justifique.

2.      Que tipo de atores sociais podem ser identificados no documentário?

3.      A situação de conflito agrário do estado do Pará pode generalizada para outras partes do Brasil?

4.      A reforma agrária é um instrumento para diminuir ou acabar com os conflitos agrários no Brasil? Justifique.

5.      Quem é mostrado de forma mais positiva (com simpatia) no documentário, qual seria a motivação?

Agricultura nos EUA





Colheita de soja no Meio-Oeste dos EUA: agricultores americanos levarão para casa mais de US$ 100 bilhões em 2011



O que torna Dakota do Norte, Nebraska e Dakota do Sul diferentes do resto dos Estados Unidos?

A primeira diferença é que os três Estados possuem os menores índices de desemprego do país: 3,5%, 4,2% e 4,5%, respectivamente, comparados à média nacional de 9% em outubro. A segunda grande diferença é a agricultura. A atividade rural tem maior participação no Produto Interno Bruto (PIB) desses Estados do que nos outros. Enquanto a média nacional é inferior a 1,5%, o percentual chega a 10,9% em Dakota do Norte, a 9,4% em Dakota do Sul e a 6,9% em Nebraska.

Ter um setor agrícola com grande peso era uma maldição nos anos 80 e 90. Hoje, é bênção.

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou recentemente que o valor agregado líquido da agricultura na economia do país (ajustado pela inflação) deste ano será o maior desde 1974. E esse bom momento deverá ser prorrogado. Números oficiais mostram que em 2011, pela primeira vez, os agricultores dos EUA levarão para casa mais de US$ 100 bilhões em um único ano.

Nas palavras do secretário da Agricultura do país, Tom Vilsack, a "agricultura continua a ser um ponto luminoso" em meio à economia dos EUA. De fato, a atividade rural é um dos poucos destaques, ao lado da produção de recursos naturais, especialmente o petróleo.

O bom momento agrícola também levou o setor de agronegócios dos EUA, pela primeira vez em muitos anos, de volta aos radares dos maiores investidores. Empresas do setor, desde a Deere & Co., maior fabricante mundial de tratores e colheitadeiras, até a Monsanto, produtora de sementes e pesticidas, passando pela Cargill, maior comercializadora de commodities agrícolas do mundo, beneficiaram-se. Paralelamente, o preço das terras cultiváveis nos Estados agrícolas - atualmente outro investimento de grande procura - avançou, com valorizações anuais superiores a 25%.

O USDA indica que o setor agrícola do país caminha para ter outro bom ano em 2012, o que estenderia o boom para seu quinto ano consecutivo. Nos últimos dez anos, a receita agrícola líquida quase dobrou, como resultado da expansão da produção de commodities agrícolas nos Estados Unidos - especialmente o milho - e da elevação dos preços a seus maiores patamares históricos.

Em 2001, os agricultores do país levaram para casa pouco mais de US$ 50 bilhões; neste ano, o USDA estima que ganharão US$ 100,9 bilhões, 28% a mais do que em 2010. Paralelamente, os subsídios concedidos pelo governo americano deverão cair para US$ 10,6 bilhões neste ano, 1,4% a menos do que em 2010.

Esse aumento na receita é resultado de uma rara onda de alta nas commodities. Nos últimos 30 anos, os preços dos alimentos subiram brevemente e em poucas ocasiões. A maioria das vezes, as elevações foram registradas isoladamente em algumas commodities - trigo, milho ou soja. A tendência de alta que ganhou fôlego em meados do ano passado e beneficiou esta safra 2011/12, porém, abrange quase todas as commodities agrícolas ao mesmo tempo, fenômeno que não se via desde o biênio 1973-1974.

As altas têm raízes na forte demanda por matérias-primas nos países em desenvolvimento, particularmente China e Índia, no grande apetite da indústria de biocombustíveis dos EUA e nas interrupções nas exportações e produção de vários produtores-chave, da Rússia até a Austrália.

Há nuvens no horizonte, no entanto. Houve forte aumento nas despesas, com os fertilizantes, em alta de 18% nos últimos 12 meses, e os combustíveis, de 27%. De modo geral, os custos de produção subirão 12%, para o recorde de US$ 320 bilhões. A elevação neste ano assemelha-se ao preocupante aumento nas despesas verificado em 2007 e 2008.

Outro fator é que a tendência pode estar chegando naturalmente a seu fim. A atual sequência de vários anos de preços altos é uma anomalia. Historicamente, a produção de commodities agrícolas acaba superando a demanda, o que desencadeia um período prolongado de preços baixos. Ainda está por ver-se se a continuidade do ímpeto da demanda será suficiente para contrabalançar a tendência natural dos agricultores a exagerar na dose da produção. No meio tempo, Dakota do Norte, Nebraska e Dakota do Sul continuarão diferentes.